Desde 2023, com a adoção global do IFRS 17, norma internacional de contabilidade emitida pelo International Accounting Standards Board, observamos, na prática, diversidade na aprovação desse pronunciamento contábil em determinados países ou por reguladores específicos.
No Brasil, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários aprovou o IFRS 17 (CPC 50) para empresas de capital aberto já para o exercício de 2023, enquanto o regulador das seguradoras ainda não deu sua aprovação.
Na América Latina, encontramos diversos cenários. No Chile, México e Uruguai, os reguladores de seguros ainda não aprovaram o IFRS 17. No Peru, a SBS (Superintendencia de Banca, Seguros y AFP) está implementando a norma em fases, com previsão de adoção completa pelas seguradoras em 2027, mas há diferenças em relação à norma originalmente emitida.
Já na Costa Rica, as seguradoras devem adotar a norma correspondente ao IFRS 17 (NIIF 17) em 1º de janeiro de 2026, de acordo com comunicado do Consejo Nacional de Supervision del Sistema Financiero – Conassif.
Portanto, em algumas localidades, ainda há muito trabalho a ser feito. Para as seguradoras que já concluíram a fase de transição, agora é possível refletir sobre a dimensão e a complexidade de um projeto de implementação de norma contábil desse porte.
As lições aprendidas são muitas e é difícil destacar as decisões mais críticas. No entanto, uma lição fundamental é clara: sem o comprometimento da alta administração, projetos desse tipo não avançam.
Para as companhias que ainda passarão pelo processo de implementação ou qualquer forma de adaptação ao IFRS 17, é fundamental ter clareza sobre os cinco principais aspectos, a começar pelo objetivo da adaptação. Seja para cumprir exigências regulatórias, preparar-se para uma oferta pública inicial, realizar aquisições de negócios ou efetuar uma reorganização societária, compreender o motivo da transição para a nova prática contábil é essencial para dimensionar o projeto de forma adequada. Um segundo ponto é o dimensionamento do projeto, que inclui estabelecer recursos dedicados, definir o cronograma do projeto, identificar as áreas envolvidas, priorizar tarefas e delinear as frentes de trabalho.
Outro aspecto é a gestão e ownership do projeto, uma vez que o gerenciamento eficaz e a clara definição de responsabilidades são aspectos essenciais para garantir sua prioridade interna necessária. Ainda, dados e sistemas, pois avaliar as necessidades, entender as limitações internas de dados e tecnologia e desenvolver estratégias alternativas são passos fundamentais para tomar decisões bem fundamentadas e estratégicas.
Por último, as companhias precisam atentar às pessoas. Contar com profissionais capacitados, que entendam o modelo de negócio e consigam aplicar os conceitos da norma, considerando aspectos práticos e operacionais, é crucial para uma implementação de sucesso.
Em treinamentos, fóruns ou conversas com clientes, tem sido recorrente abordar pontos de atenção, armadilhas e cuidados em projetos dessa natureza. Uma das principais recomendações para quem vai iniciar essa jornada é buscar aprender com as experiências passadas, dialogar com quem já enfrentou esses desafios e, assim, evitar repetir os mesmos erros para garantir uma transição bem-sucedida.
*Sócia da PwC Brasil, especialista em Consultoria Contábil